CIÊNCIA & TECNOLOGIA
ESTUDO: RIAS E ESTUÁRIOS SERÃO OS MAIS AFETADOS PELAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
Um estudo realizado no Algarve concluiu que as zonas utilizadas como maternidades e berçários pelas espécies marinhas, como as rias e os estuários, poderão ser das mais afetadas com as variações ambientais provocadas pelas alterações climáticas.
Um estudo realizado no Algarve concluiu que as zonas utilizadas como maternidades e berçários pelas espécies marinhas, como as rias e os estuários, poderão ser das mais afetadas com as variações ambientais provocadas pelas alterações climáticas.
O estudo revelou que “o aumento da salinidade na ria [Formosa] durante o verão” – consequência de uma maior evaporação da reduzida coluna de água, pouca profundidade – que ultrapassa os valores ideais para algumas espécies, pode provocar “alterações na produção do zooplâncton, diminuindo a sua quantidade”, logo, uma “menor disponibilidade de alimento” afirmou à Lusa a investigadora Joana Cruz.
Com as previsões a apontarem para “um futuro com verões mais quentes e cada vez menos chuva” há uma tendência para um aumento progressivo deste fenómeno que poderá ser intensificado no tempo”, podendo afetar “o desenvolvimento e a quantidade destes organismos”, afirmou a bióloga.
“Com um aumento da temperatura e salinidade e o período de verão mais longo, os animais poderão não sobreviver nas rias e estuários, que são por norma zonas de maternidade e berçário, essenciais para a reprodução das espécies”, alertou.
O estudo, realizado no âmbito do doutoramento no Centro de Ciências do Mar, na Universidade do Algarve e no Instituto Português do Mar e da Atmosfera, procurou investigar o impacto das alterações ambientais na Ria Formosa no zooplâncton durante o período do verão.
Foi dado especial destaque ao crustáceo copépode ‘Acartia clausi’, por ser uma espécie “muito abundante e uma importante fonte de alimento para as larvas de peixes que fazem da ria a sua maternidade e berçário”, disse Joana Cruz.
Os resultados do estudo revelaram que o ecossistema lagunar da Ria Formosa, que se estende entre Faro e Manta Rota, no concelho de Vila Real de Santo António, apresentou, “numa curta escala de tempo, uma elevada variação na abundância, composição e produção nas comunidades de zooplâncton”. Para Joana Cruz “a salinidade foi o elemento que mais afetou todos os organismos seguindo-se as marés, a temperatura e a disponibilidade de alimento [fitoplâncton]”.
“As variações bruscas de temperatura e salinidade, principalmente no verão, poderão causar disrupção na abundância dessas espécies e causar danos na cadeia alimentar”, alertou Joana Cruz.
Denominam-se como zooplâncton uma vasta variedade de espécies de animais aquáticos microscópicos predadores que vivem em massas de água circulando à deriva nas correntes ou nadando tão devagar que são incapazes de lhes resistir e que se alimentam de fitoplâncton – organismos planctónicos capazes de realizar a fotossíntese.
“Este animais fazem a ligação entre a produção primária (vegetariana) e os consumidores e como têm um ciclo de vida muito curto reagem muito às alterações ambientais”, adiantou a bióloga, acrescentado que “qualquer alteração nesta comunidade implica uma redução de alimento para a vasta comunidade que deles dependem” concluiu.
As lagunas costeiras como a Ria Formosa são ecossistemas pouco profundos e ricos em nutrientes sendo ambientes normalmente instáveis, ameaçados pelas alterações climáticas e geralmente sob fortes pressões da atividade humana.
Os organismos planctónicos respondem rapidamente a tais alterações no ambiente, pelo que são considerados bons indicadores das alterações nos ecossistemas.
CIÊNCIA & TECNOLOGIA
MARTE TEVE PERÍODOS QUENTES E ÁGUA DURANTE 40 MILHÕES DE ANOS
Cientistas de Harvard determinaram os mecanismos químicos através dos quais Marte era capaz de manter calor suficiente nos seus primórdios para sustentar água e possivelmente vida.
Cientistas de Harvard determinaram os mecanismos químicos através dos quais Marte era capaz de manter calor suficiente nos seus primórdios para sustentar água e possivelmente vida.
O facto de atualmente Marte ser frio e seco mas ter tido rios e lagos há vários milhares de milhões de anos intriga os cientistas há décadas.
“Tem sido um verdadeiro mistério que houvesse água líquida em Marte, porque Marte está mais longe do Sol e, além disso, o Sol era mais fraco no início”, explicou, em comunicado, Danica Adams, investigadora de pós-doutoramento da NASA na Escola de Engenharia e Ciências Aplicadas John A. Paulson (SEAS) de Harvard e principal autora do novo artigo publicado na Nature Geoscience.
Anteriormente, existia a teoria de que o hidrogénio era o ingrediente mágico que, quando misturado com o dióxido de carbono da atmosfera marciana, desencadeava episódios de aquecimento global. Mas a vida útil do hidrogénio atmosférico é curta, pelo que foi necessária uma análise mais detalhada.
Agora, Adams, o professor Robin Wordsworth de Ciências Ambientais e Engenharia na SEAS, e a sua equipa realizaram modelação fotoquímica (semelhante aos métodos utilizados hoje em dia para rastrear poluentes atmosféricos) para preencher os detalhes da relação da atmosfera marciana primitiva com o hidrogénio e como este relacionamento mudou ao longo do tempo.
“Marte antiga é um mundo perdido, mas pode ser reconstruído em detalhe se fizermos as perguntas certas”, frisou Wordsworth.
“Este estudo sintetiza a química atmosférica e o clima pela primeira vez para fazer algumas previsões surpreendentes que podem ser testadas quando trouxermos rochas de Marte para a Terra”, acrescentou.
Adams modificou um modelo chamado CINETICA para simular como uma combinação de hidrogénio e outros gases que reagem com o solo e o ar controlavam o clima marciano primitivo.
Descobriu que durante os períodos Noachiano e Hesperian, entre há 4 e 3 mil milhões de anos, Marte passou por períodos quentes episódicos ao longo de cerca de 40 milhões de anos, com cada evento a durar 100.000 anos ou mais.
Estas estimativas são consistentes com as características geológicas de Marte atualmente. Os períodos quentes e húmidos eram causados pela hidratação da crosta, ou perda de água do solo, que fornecia hidrogénio suficiente para se acumular na atmosfera durante milhões de anos.
“Identificámos escalas de tempo para todas estas alternâncias. E descrevemos todas as peças no mesmo modelo fotoquímico”, sublinhou Adams.
O trabalho de modelação fornece novas perspetivas potenciais sobre as condições que sustentaram a química prebiótica (os fundamentos da vida posterior como a conhecemos) durante os períodos quentes, e os desafios para a persistência dessa vida durante os intervalos frios e oxidativos.
Adams e outros cientistas estão a começar a trabalhar para encontrar evidências destas alternâncias utilizando modelos químicos isotópicos e planeiam comparar estes resultados com rochas da próxima missão Mars Sample Return (MRS).
Como Marte não possui placas tectónicas, ao contrário da Terra, a superfície visível atualmente é semelhante à de antigamente, tornando a sua história dos lagos e rios muito mais intrigante, realçou ainda.
CIÊNCIA & TECNOLOGIA
ASTEROIDE BENNU REVELOU EXISTÊNCIA DE MOLÉCULAS DE ADN
Cientistas japoneses detetaram numa amostra do asteroide Bennu as moléculas necessárias para a formação de ADN e ARN, suportando a teoria de que os asteroides podem ter transportado, por impacto, os blocos de construção da vida para a Terra.
Cientistas japoneses detetaram numa amostra do asteroide Bennu as moléculas necessárias para a formação de ADN e ARN, suportando a teoria de que os asteroides podem ter transportado, por impacto, os blocos de construção da vida para a Terra.
De acordo com o trabalho publicado esta quarta-feira na revista científica Nature Astronomy, as amostras analisadas revelaram a presença das cinco bases nitrogenadas — adenina, guanina, citosina, timina e uracilo — necessárias para a construção de ADN e ARN.
Foram igualmente identificados pelos investigadores da Universidade Hokkaido, no Japão, os compostos xantina, hipoxantina e ácido nicotínico (vitamina B3).
Uma amostra de 121,6 gramas do asteroide Bennu chegou à Terra em 2023 à “boleia” da missão Osiris-Rex, da agência espacial norte-americana (NASA).
Tratou-se da maior amostra extraterrestre recolhida e enviada para a Terra.
Segundo uma das teses, os asteroides (corpos rochosos do Sistema Solar) contribuíram com água e componentes químicos essenciais para a vida na Terra há milhares de milhões de anos.
Embora os meteoritos na Terra provenham de asteroides, a interpretação dos seus dados “é desafiante” face à “exposição à humidade” da atmosfera e a “uma biosfera descontrolada”, refere a Universidade Hokkaido em comunicado, assinalando que “amostras imaculadas recolhidas de asteroides no espaço são os candidatos ideais”.
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