MAGAZINE
AS RELAÇÕES TÓXICAS
Há amizades que são perigosas, e pessoas que são “tóxicas”. É preciso saber distinguir os “bons” e “maus” amigos. Para descobrir e eliminar as pessoas que não te fazem bem é preciso que saibas reconhecer certos sinais. Vê mais aqui. Partilha com os teus amigos !

As amizades que vamos construindo ao longo da vida desempenham um papel vital no nosso bem-estar físico e emocional. No entanto, é preciso saber reconhecer os bons e os maus amigos. Enquanto os primeiros nos fazem felizes, nos tornam mais fortes e nos transmitem energia positiva, os segundos podem arruinar por completo a nossa autoestima e inundar a nossa vida de emoções negativas.
A estes, os especialistas chamam amigos tóxicos. Aqueles que nos fazem sentir insegurança, vergonha, medo, culpa, entre outros sentimentos destrutivos e cujo único objetivo é tornar-nos emocionalmente dependentes deles. Os ditos amigos tóxicos não se restringem apenas ao nosso círculo de amizades, estão também no nosso local de trabalho ou no nosso núcleo familiar. Saiba quando e como deve pôr fim a um relacionamento tóxico.
UMA TENDÊNCIA FEMININA
As mulheres são, geralmente, mais propensas a atrair relacionamentos tóxicos, de acordo com um estudo realizado pelo site de notícias do programa Today Show, exibido pela cadeia norte-americana NBC, em parceria com a revista feminina Self. As conclusões foram reveladoras. Não só uma grande percentagem dos inquiridos revelou ter (ou já ter tido) uma amizade tóxica, como esta percentagem era superior no género feminino.
Cerca de 84 por cento das mulheres e 75 por cento dos homens disseram já ter tido um amigo tóxico em algum momento das suas vidas. A pergunta que se coloca é a seguinte. Por que motivo mantemos uma relação que nos faz mal quando podemos ter outras positivas? A resposta pode estar no tipo de personalidade das pessoas que são manipuladas.
Os alvos preferidos:
Segundo Fernando Mesquita, psicólogo clínico na Clínica Psicronos, em Lisboa, coautor do livro «SOS Manipuladores», que aborda precisamente a toxicidade de alguns relacionamentos, as pessoas que permanecem em relações tóxicas são, geralmente, altruístas e precisam da atenção dos outros. Podem ser também mulheres que esperam o príncipe encantado ou indivíduos que não foram amados na infância.
As pessoas que evitam o conflito também podem cair nas teias de um amigo tóxico, «tal como as que têm uma baixa autoestima ou são pessimistas e/ou estão deprimidas», acrescenta. Catarina de Castro Lopes, psicóloga na Psinove, em Lisboa, alerta para a frequente máscara dos amigos tóxicos que pode esconder as suas verdadeiras intenções.
«Pode ser difícil ter consciência que uma determinada relação nos está a causar mal-estar e, frequentemente, é em retrospetiva que nos apercebemos dos sinais que fomos negando», revela a especialista. Por outro lado, poderá estar em causa uma relação de dependência. «Aos olhos da vítima, poderá haver a sensação de alguns ganhos em manter este tipo de relação, como a dependência financeira e/ou emocional ou os ganhos a nível social».
Um jogo baseado na sedução:
Estas relações disfuncionais, como Catarina de Castro Lopes as designa, não estão, no entanto, apenas associadas à personalidade da vítima como também do amigo tóxico. «Podemos estar perante uma pessoa com uma perturbação antissocial da personalidade, também designada como psicopatia ou sociopatia, onde a manipulação é uma característica central», afirma a psicóloga, alertando que as pessoas com esta perturbação podem ser difíceis de detetar.
«São comummente encantadoras e causam boa impressão, no entanto, não mostram empatia pelos outros e sentem pouco remorso pelas consequências dos seus atos. Podem mostrar-se indiferentes ao magoar ou maltratar alguém e culparem os outros». Fernando Mesquita explica como funciona o jogo de sedução. «Geralmente, nas relações de amizade tóxica existe uma fase de sedução, onde o tóxico procura extrair o máximo de informação e mostra altos níveis de interesse e empatia para com as vítimas», diz.
«Segue-se uma fase em que cria algum tipo de dependência, por exemplo, tentando estar presente nos momentos importantes, ao mesmo tempo que procura eliminar o ciclo de amigos das suas vítimas, recorrendo a boatos, intrigas e difamações. Depois, começam a surgir afirmações de desvalorizações e sentimentos de culpa», acrescenta ainda.
Estás numa relação tóxica?
Para conseguir responder a esta questão, talvez seja preciso primeiro refletir sobre o que é uma relação saudável, aconselha Fernando Mesquita. «Se tivermos como ponto de partida que uma relação saudável é aquela que permite espaço de autonomia e independência dos intervenientes e a valorização pessoal», começa por sublinhar o psicólogo.
«E onde a comunicação é focada na resolução de problemas e não em jogos de poder e psicológicos», acrescenta ainda, «então uma relação tóxica será tudo aquilo que é contrário a estes princípios», conclui. Catarina de Castro Lopes diz-nos que é, frequentemente, uma relação assimétrica, «onde estão presentes movimentos de manipulação, subjugação e dependência, e onde predominam o julgamento, a crítica, a exigência, a competição, o ciúme ou a inveja».
Relações tóxicas no trabalho:
Na esfera profissional, os efeitos de uma relação tóxica podem ser igualmente devastadores. Catarina de Castro Lopes, também formadora na área empresarial, alerta para os sinais mais comuns. «Um relacionamento no local de trabalho pode refletir-se em sensações de humilhação, uso ou abuso, culpa excessiva, inferioridade e/ou ineficácia», refere.
«Algumas atitudes como criar boatos para descredibilizar o outro, fazer humilhações em público e provocar conflitos, intimidação ou assédio sexual são frequentes e podem ser bastante nocivas para o outro», refere ainda. A situação poderá tornar-se mais preocupante quando a relação em causa é com o chefe. Nestes casos, a especialista aconselha a evitar o conflito e a usar uma comunicação assertiva para expor os seus direitos e interesses.
O impacto das relações tóxicas no nosso bem-estar:
De acordo com uma investigação realizada na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, nos EUA, as relações que estabelecemos com os outros podem ser tão ou mais importantes para a nossa saúde como uma dieta equilibrada ou um sono de qualidade. Os cientistas colocaram 122 jovens saudáveis em ambientes stressantes e, ao fim de algum tempo, verificaram a produção de substâncias inflamatórias que aumentam o risco de desenvolver várias doenças, como a hipertensão arterial, cancro e patologias cardíacas.
Como acabar com uma amizade tóxica em cinco passos:
Por vezes, terminar a uma relação tóxica pode ser difícil. Segue os conselhos da psicóloga clínica Catarina de Castro Lopes:
1. Estabelece limites. Define ao teu amigo/a o que é ou não permitido e o que quer da relação.
2. Caso a outra pessoa não respeite os teus limites e continua a colocar em causa o teu bem- estar; simplesmente afasta-te.
3. Poderás confrontar o teu amigo, ou comunicar de forma assertiva. Tudo depende do tipo de relação que têm. Dizer-lhe o que necessitas e sentes no momento poderá ajudar a terminar a relação. Se não ficarem coisas por dizer, será mais fácil fazer o luto e fechar esta porta.
4. Analisa se encontras semelhanças em relacionamentos do passado e reflecte se há determinadas características que consideras atraentes nestas pessoas.
5. Se te é difícil sair deste relacionamento tóxico, procura ajuda. A psicoterapia poderá ajudar a identificar os factores, ao nível intra-pessoal e inter-pessoal, que a fazem manter a relação e a encontrar acções mobilizadoras e reparadoras.
Toma nota que podes estar perante uma ligação perigosa se uma pessoa lhe causar permanentemente estes sentimentos:
1. Stresse
2. Sensação de cansaço
3. Tensão
4. Alterações de sono e apetite
5. Enxaquecas e outras dores no corpo
6. Falta de ar
7. Vergonha
8. Negativismo
9. Revolta
10. Desrespeito
11. Medo.
12. Baixos níveis de atenção e concentração
13. Dificuldade de enfrentar o dia a dia
14. Insegurança
15. Sentimento de culpa
16. Dependência
17. Ansiedade
18. Depressão
