O Benfica com Roger Schmidt a surpreender com a continuidade do sistema utilizado em Arouca no jogo da Taça da Liga, 1-3-4-3, com Gonçalo Guedes a jogar como referência ofensiva no corredor central apoiado por Di Maria e Rafa, eventualmente a preparar os importantes e difíceis jogos com a Real Sociedad e Sporting, ganha de forma segura, a um Desportivo de Chaves que se organizou muito bem, mas teve dificuldades na criação de oportunidades de golo.

Moreno utilizou um sistema tático idêntico ao do adversário, com a nuance dos defesas/médios dos corredores laterias, João Correia e Bruno Langa serem obrigados pela dinâmica e capacidade de gerir a posse de bola e iniciativa ofensiva do Benfica a jogar na maior parte do tempo, como defesas no sistema 1-5-2-3. Deu a iniciativa de jogo ao Benfica e esperou um erro, que nunca aconteceu, ou uma transição, que só aconteceu por uma vez, com Sanca a fazer um remate com algum perigo.

Ofensivamente a estratégia não resultou, porque o Chaves não conseguiu criar oportunidades para marcar, mas na sua organização defensiva só por uma vez o Benfica teve espaço, dentro da grande área, no remate de Di Maria, por cima da barra.

Roger Schmidt percebeu que sem uma referência na área seria difícil criar oportunidades para marcar e trocou Gonçalo Guedes por Arthur Cabral, com ganhos significativos. Numa fase de equilíbrio, em que o Chaves se estava a soltar com algum atrevimento ofensivo, João Neves faz aquela fantástica jogada que desbloqueou o jogo e a partir daí o Benfica geriu a vantagem com segurança na sua organização defensiva, apesar do susto no espetacular remate à barra de Bruno Langa.

João Neves a defesa/médio direito é um desperdício. Bah não está disponível e até equacionei a utilização de Tiago Gouveia que poderia dar maior profundidade no corredor. A realidade é que o jovem João Neves contraria todas essas teorias exibindo-se em excelente plano independentemente da posição que ocupa no terreno, e no fundo dá razão à opção do seu treinador.

Moreno tentou alterar a sua equipa procurando outro tipo de soluções ofensivas, colocando Jô Batista, Paulo Victor e Abass mantendo o seu melhor marcador em campo Héctor Hernández, mas o Benfica fez um jogo muito seguro com os 3 centrais a não cometerem erros e com a marcação do 2º golo dissipou todas as dúvidas acerca do vencedor.

O Benfica sem deslumbrar venceu justamente. Não teve ainda um verdadeiro teste ao novo sistema tático. Naturalmente ganha consistência defensiva e como tem jogadores rápidos, pode nos jogos com equipas do seu nível, explorar a transição ofensiva/contra-ataque.

Nos jogos com equipas em bloco baixo, a presença na área e o ganho dos duelos individuais nesse espaço reduzido faz toda a diferença e o Benfica sem um ponta de lança pode ter problemas. Rafa, que na minha opinião é o melhor jogador dos encarnados, pode ser decisivo neste novo sistema, no transporte de bola, na exploração dos espaços, marcação de golos e assistências, mas terá de subir de rendimento, ele que não atravessa o seu melhor momento de forma e hoje, a sua exibição, foi o reflexo dessa fase de menor inspiração.

Os destaques individuais no jogo de hoje foram, Kelechi, o melhor dos flavienses e Bruno Langa, apesar da pouca agressividade no duelo com João Neves no 1º golo do Benfica, quase marcava naquele espetacular remate à barra, numa equipa que globalmente se exibiu bem.

E no Benfica, João Neves foi decisivo na jogada do primeiro golo e a conquistar o penalti para o segundo, Arthur Cabral também foi importante e os 3 centrais estiveram sempre muito seguros e coordenados.

Hélder Malheiro num jogo sem grandes problemas resolveu assinalar penalti no ligeiro toque de Langa no rosto de João Neves, uma falta que só em Portugal é assinalada. Existe contacto, que tem a ver com a diferença de estatura e do movimento de proteção da posição. Só quem nunca jogou futebol marca este tipo de faltas. Os jogadores do Benfica não protestaram, o jogo seguiu sem problemas e Moreno depois de ver as imagens, não se conseguiu controlar.

No lance do golo de Musa socorreu-se do VAR, num lance de difícil decisão, para anular o que seria o terceiro golo do Benfica.

José Augusto Santos, Comentador Desportivo e Treinador de Futebol Nível IV UEFA Pro.