CIÊNCIA & TECNOLOGIA
INSETO DA AUSTRÁLIA REDUZ SIGNIFICATIVAMENTE O POTENCIAL INVASOR DA ACÁCIA-DE-ESPIGAS EM PORTUGAL
Um pequeno inseto australiano libertado em Portugal para o controlo natural da acácia-de-espigas está a reduzir de forma significativa a capacidade de propagação desta espécie, uma das piores invasoras no litoral português. A conclusão é de um estudo que acaba de ser publicado no Journal of Environmental Management.
Um pequeno inseto australiano libertado em Portugal para o controlo natural da acácia-de-espigas está a reduzir de forma significativa a capacidade de propagação desta espécie, uma das piores invasoras no litoral português. A conclusão é de um estudo que acaba de ser publicado no Journal of Environmental Management.
Em 2015, Portugal foi o primeiro país da Europa continental a efetuar a libertação intencional de um agente para controlar biologicamente uma planta invasora, depois de mais de uma década de estudos efetuados por uma equipa do Centro de Ecologia Funcional (CFE), da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), e da Escola Superior Agrária (ESAC), do Instituto Politécnico de Coimbra (IPC).
Os investigadores do CFE e da ESAC efetuaram a libertação deste agente de controlo biológico – uma pequena vespa australiana formadora de galhas (Trichilogaster acaciaelongifoliae), muito específica – para controlar a acácia-de-espigas (Acacia longifolia), desde 2015, em 61 locais ao longo da costa portuguesa. Esta introdução foi depois acompanhada pela equipa, nos anos seguintes, para estudar o estabelecimento, dispersão e efeitos ao longo dos primeiros anos pós-libertação do inseto.
Os resultados dessa monitorização, agora publicados, mostram que, embora o estabelecimento inicial «tenha sido limitado pelo facto de o agente ter sido introduzido a partir do hemisfério sul, as taxas de estabelecimento aumentaram muito após a sincronização de seu ciclo de vida com as estações do hemisfério norte e fenologia da acácia-de-espigas. Atualmente observa-se um crescimento exponencial das populações, que se afastam cada vez mais dos locais de libertação. Observou-se que passados poucos anos os ramos de acácia-de-espigas com galhas de Trichilogaster acaciaelongifoliae diminuíram a produção de vagens (menos 84%), sementes (menos 95%) e ramos secundários (menos 33%)», sublinham Hélia Marchante e Elizabete Marchante, coordenadoras do estudo.
A acácia-de-espigas, esclarecem, é uma das plantas invasoras «com maior dispersão ao longo do litoral português, onde forma extensas áreas monoespecíficas; produz milhares de sementes anualmente, que se acumulam no solo por várias décadas, e promovem a rápida reinvasão de áreas intervencionadas. A vespa australiana introduzida promove a formação de galhas nas gemas florais e vegetativas da acácia-de-espigas, reduzindo o seu potencial invasor».
Francisco López-Núnez, investigador do CFE e primeiro autor do estudo, observa que «apesar de a introdução e estabelecimento deste agente de controlo biológico ainda ser recente e ter distribuição limitada ao longo do território, os resultados agora publicados confirmam o estabelecimento com sucesso do agente em Portugal e mostram que este está a afetar de forma negativa a capacidade da acácia-de-espigas se reproduzir e crescer».
As espécies invasoras «são uma das principais causas de perda de biodiversidade a nível global, promovendo também prejuízos elevados a nível económico e de saúde humana. A gestão destas espécies é um desafio complexo e muito dispendioso. O controlo biológico de plantas invasoras é uma ferramenta chave para a gestão mais sustentável destas espécies, mas ainda é muito pouco utilizado na Europa», concluem Hélia Marchante e Elizabete Marchante.
CIÊNCIA & TECNOLOGIA
O MANTO DA TERRA É MENOS MISTURADO DO QUE SE PENSAVA – ESTUDO
Um estudo sismológico indica que as duas enormes ‘ilhas’ existentes sob a superfície da Terra estão a uma temperatura mais elevada do que o material circundante, indicando que o manto da Terra é menos misturado do que se pensava.
Um estudo sismológico indica que as duas enormes ‘ilhas’ existentes sob a superfície da Terra estão a uma temperatura mais elevada do que o material circundante, indicando que o manto da Terra é menos misturado do que se pensava.
Ambas as ‘ilhas’ foram descobertas no final do século passado. Os investigadores definem-nas como dois “supercontinentes” localizados entre o núcleo e o manto da Terra: um sob África e o outro sob o Oceano Pacífico, ambos a mais de 2000 quilómetros abaixo da superfície da Terra.
“Estas duas grandes ilhas estão rodeadas por uma espécie de ‘cemitério’ de placas tectónicas que foram transportadas para lá por um processo de subducção, em que uma placa submerge sob outra e se afunda da superfície da Terra até uma profundidade de quase 3.000 quilómetros”, realçou Arwen Deuss, sismóloga da Universidade de Utrecht, nos Países Baixos, e uma das autoras do estudo publicado na quarta-feira na revista Nature.
Até agora, os modelos sísmicos utilizavam apenas velocidades de onda para distinguir a composição e as características térmicas de diferentes partes da estrutura interna da Terra.
A investigação atual combinou as velocidades das ondas com uma técnica chamada “observações de atenuação” que permitiu o estudo do interior da Terra em três dimensões, algo “fundamental para compreender a evolução da composição” do manto, apontaram os autores.
A nova técnica permitiu-lhes “obter uma visão do interior do planeta, semelhante à que os médicos obtêm do corpo humano através dos raios X”.
Os resultados indicaram que, quando atingem estas ‘ilhas’ interiores do tamanho de continentes, as ondas abrandam porque a temperatura é mais elevada.
Ao estudar a composição dos minerais no manto, os investigadores descobriram também que o tamanho dos grânulos minerais nestas ‘ilhas’ gigantes é visivelmente maior do que nas placas tectónicas ‘mortas’ que as rodeiam.
“Estes grânulos minerais não crescem de um dia para o outro, o que só pode significar uma coisa: são muito maiores, mais rígidos e, por isso, mais antigos do que os cemitérios de camadas mortas circundantes. Isto indica que as ‘ilhas’ não participam no fluxo no manto terrestre”, explicou outra autora, Sujania Talavera-Soza, da mesma universidade.
“Ao contrário do que nos ensinam os livros de geografia, o manto também não pode ser bem misturado. Há menos fluxo no manto terrestre do que pensamos”, acrescentou Talavera-Soza.
O conhecimento do manto terrestre é essencial para compreender a evolução do planeta e de outros fenómenos à superfície da Terra, como os vulcões e a formação de montanhas.
Para este tipo de investigação, os sismólogos aproveitam as oscilações provocadas por fortes sismos que ocorrem a grandes profundidades, como o que ocorreu na Bolívia em 1994 — 650 quilómetros abaixo da superfície — sem causar danos ou vítimas, e a descrição matemática da força destas oscilações.
CIÊNCIA & TECNOLOGIA
UNIVERSIDADE DE COIMBRA LANÇA LIVRO PARA IDENTIFICAÇÃO DE ABELHAS DE PORTUGAL
A Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) lançou um livro técnico para identificação de géneros de abelhas de Portugal.
A Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) lançou um livro técnico para identificação de géneros de abelhas de Portugal.
A obra “Chaves Dicotómicas dos Géneros de Abelhas de Portugal. Hymenoptera: Anthophila”, uma adaptação e tradução de “Key to the Genera of European Bees (Hymenoptera: Anthophila)”, é o primeiro a ser publicado sobre o tema para Portugal e em português, revelou a FCTUC, em nota enviada à agência Lusa.
Produzido no âmbito dos projetos PolinizAÇÃO e EPIC-Bee, em colaboração com a Imprensa da Universidade de Coimbra, o livro já está disponível para ‘download’ gratuito.
“Desenvolvido como uma ferramenta para a identificação de géneros de abelhas, o livro destina-se principalmente a um público académico e técnico, constituindo um marco significativo no campo da entomologia e um contributo valioso para a conservação dos insetos polinizadores”, referiu a FCTUC.
A produção do livro técnico contou com o envolvimento de investigadores do FLOWer Lab do Centro de Ecologia Funcional e do Departamento de Ciências da Vida da FCTUC, nomeadamente Hugo Gaspar, Sílvia Castro e João Loureiro.
“Este livro preenche uma lacuna de décadas na investigação sobre as abelhas selvagens em Portugal, uma vez que atualiza o conhecimento e aproxima-o da comunidade entomológica nacional através da adaptação e tradução para a língua portuguesa”, afirmou o entomólogo e aluno de doutoramento da FCTUC, Hugo Gaspar.
O trabalho “será extremamente útil não só para investigadores que trabalham no estudo e conservação de polinizadores, mas também para estudantes, naturalistas e para todos os que tiverem interesse em aprender sobre a identificação de abelhas”, acrescentou.
A obra contou também com a colaboração do investigador da Universidade do Porto, José Grosso-Silva, e da equipa de investigadores ligada ao Laboratório de Zoologia da Universidade de Mons (Bélgica), através dos projetos europeus Spring, Orbit e Epic-Bee.
A FCTUC declarou que este lançamento reforça o compromisso da Universidade de Coimbra em promover a ciência e desenvolver ferramentas de apoio à investigação científica e ao conhecimento sobre biodiversidade.
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