ECONOMIA & FINANÇAS
CRISE: 47% DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS PASSOU POR GRAVE SITUAÇÃO FINANCEIRA
Cerca de 47% das micro e pequenas empresas portuguesas registaram uma situação de tesouraria grave durante a pandemia da covid-19, tendo 25,4% registado uma grande diminuição do volume de negócios, segundo os resultados de um inquérito, hoje divulgados.
Cerca de 47% das micro e pequenas empresas portuguesas registaram uma situação de tesouraria grave durante a pandemia da covid-19, tendo 25,4% registado uma grande diminuição do volume de negócios, segundo os resultados de um inquérito, hoje divulgados.
De acordo com o primeiro Inquérito Sobre a Literacia Financeira de Empresários de Micro e Pequenas Empresas e os Desafios da covid-19 em Portugal, apresentado esta manhã no Museu do Dinheiro, em Lisboa, 46,6% das empresas inquiridas registaram durante a pandemia “uma situação de tesouraria grave, em que as entradas de tesouraria se revelaram insuficientes para fazer face às saídas de tesouraria ou para pagar despesas esperadas da empresa”.
Neste contexto, 25% utilizou a líquidez disponível, enquanto 18,9% reduziu os custos de exploração da empresa e 13,8% contraiu uma nova dívida.
O relatório indica ainda que 64,2% das empresas recorreram a apoios do Estado durante a pandemia. Entre os apoios mais ‘populares’ estiveram o ‘lay-off’ (32,1%), as moratórias (25,2%), as linhas de crédito (24,3%) e as políticas fiscais (19,6%).
O inquérito debruçou-se igualmente sobre o conhecimento de produtos bancários. Mais de 75% disseram conhecer produtos como empréstimos bancários (95,3%), cartões de crédito para empresas (92%), ‘leasing’ ou aluguer de longa duração (88,5%), seguro de responsabilidade civil (88,1%), seguro multirriscos (83,8%) ou facilidade de descoberto ou conta corrente caucionada (77,4%).
Por outro lado, 1,2% disseram não conhecer nenhum produto financeiro, enquanto os financiamentos ‘mezzanine’ são conhecidos por apenas 4,4% dos empresários e a ‘initial coin offering’ por 6,3%.
Já quanto à detenção de produtos financeiros, o seguro de responsabilidade civil é o mais popular, com quase metade (49,2%) dos empresários a deterem um, enquanto 46,7% contam com um cartão de crédito para a empresa, 45% com um empréstimo bancário e 44,9% om um seguro multirriscos.
Para o processo de escolha de produto ou serviço financeiro, 63,9% disseram ter considerado várias opções de instituições diferentes, 18,2% consideraram várias opções de uma instituição, 4,0% não encontraram opções a considerar e 10,% não consideraram quaisquer outras opções.
O administrador da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) Rui Pinto lamentou que o recurso ao mercado de capitais ainda seja “muito limitado”.
“Num contexto em que as principais fontes de financiamento das empresas continuam a ser o autofinanciamento e o crédito bancário, recorrer ao mercado de capitais permite às empresas diversificar essas fontes de financiamento e ter uma estrutura de capital mais equilibrada e sustentada”, referiu, na sua intervenção.
O inquérito, que abrangeu 1.541 micro e pequenas empresas com até 50 trabalhadores, produziu resultados que as colocaram acima da média dos 14 países inquiridos.
No caso das empresas com até nove trabalhadores, estas obtiveram uma pontuação média de 77,3, contra uma média de 67,6 da totalidade dos países e de 68 dos países do G20. Já entre as empresas com entre 10 e 49 trabalhadores, a pontuação foi de 83,9, o suficiente para o segundo lugar global, atrás de Espanha (84,3) e acima da média do G20 (74).
Ainda assim, Rita Bessone Basto, que apresentou os resultados, considerou que estas comparações devem ser feitas com “cautela”, uma vez que não foram “estratificadas com critérios comuns” aos 14 países e porque o inquérito foi feito de forma ‘online’.
Quanto à caracterização dos empresários, 74% são homens, 63% têm idades entre os 40 e os 60 anos, 71% têm mais de 10 anos de experiência, 61% têm educação superior e 50% são filhos de proprietários de empresas.
Já nas empresas, 79% são microempresas, 66% têm mais de 10 anos de existência e 25% contam com um volume de negócios acima de 500.000 euros.
O vice-governador do Banco de Portugal, Luís Máximo Santos, salientou que a literacia financeira tem sido uma das prioridades nos trabalhos da OCDE e do G20, destacando que é um fator crítico para o sucesso das pequenas e médias empresas em Portugal, cuja importância no tecido empresarial destacou.
Já o ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, defendeu que a iliteracia financeira é “um dos problemas que o país tem de enfrentar” e salientou, igualmente, a “importância fulcral das PME [pequenas e médias empresas] “, que representam mais de um quarto do tecido produtor do país.
O ministro mostrou-se ainda preocupado com o problema da capitalização das empresas.
“Se não mudarmos o paradigma do financiamento das empresas, com os bancos, mercado de capitais, vai ser difícil superar as contrariedades e as dificuldades em que o país está”, apontou.
Quanto ao indicador de digitalização, Portugal surge em quarto lugar, com 31,2 pontos nas empresas com até nove trabalhadores — acima da média dos países (25,7 pontos) e do G20 (27,1) — e 35,3 pontos nas empresas que empregam entre 10 a 49 trabalhadores — contra média de 33,2 pontos e 32,9 pontos nos países do G20.
O estudo integrou o primeiro exercício de comparação internacional da literacia financeira destes empresários, e foi promovido pela presidência italiana do G20 no âmbito da Global Partnership for Financial Inclusion, com base num questionário desenvolvido pela International Network on Financial Education (INFE) da OCDE.
ECONOMIA & FINANÇAS
SETE EM CADA DEZ EMPRESAS DISCORDAM DA SEMANA DE QUATRO DIAS
Sete em cada dez empresas são contra a implementação da semana de quatro dias, sobretudo no comércio, indústria e construção, e 71% das que concordam defendem que a medida deveria ser facultativa, segundo um inquérito hoje divulgado.
Sete em cada dez empresas são contra a implementação da semana de quatro dias, sobretudo no comércio, indústria e construção, e 71% das que concordam defendem que a medida deveria ser facultativa, segundo um inquérito hoje divulgado.
Elaborado pela Associação Industrial Portuguesa — Câmara de Comércio e Indústria (AIP-CCI) e referente ao quarto trimestre de 2024, o “Inquérito de Contexto Empresarial sobre o Mercado Laboral” indica ainda que 70% das empresas defendem que matérias laborais como carreiras, benefícios, remunerações complementares ou limites de horas extraordinárias deveriam ser concertadas no interior das empresas e não em sede de Contrato Coletivo de Trabalho (CCT).
Relativamente ao banco de horas individual, 71% das empresas inquiridas dá parecer favorável e, destas, 74% entende que deveria ser fixado por acordo dentro da empresa, em vez de nas convenções coletivas de trabalho.
Segundo nota a AIP, entre as empresas que mais defendem esta concertação interna estão as pequenas e médias empresas.
Já em termos de modelo de trabalho, 81% das 523 empresas participantes dizem praticar trabalho presencial, 17% um modelo híbrido e 2% teletrabalho. Entre as que adotaram um modelo híbrido ou remoto, 73% afirmam que tal contribuiu para uma melhoria da produtividade e 84% consideram manter este modelo.
Quando questionadas sobre o Salário Mínimo Nacional (SMN), 83% das empresas concordam com a sua existência, ainda que 65% entendam que não deve ser encarado como um instrumento de redistribuição de riqueza.
Entre as que consideram que o SMN deve ser um instrumento com este fim, 45% diz que deveria ser a sociedade a suportá-lo, através de impostos negativos nos rendimentos mais baixos, enquanto as restantes 55% defendem que deveria ser suportado pelos custos de exploração das empresas.
Relativamente ao valor de 1.020 euros mensais projetados para o SMN até ao final da atual legislatura, mais de metade (56%) das empresas inquiridas apontam que é suportável pela conta de exploração das empresas, embora 95% desconheça algum estudo que aponte o seu setor de atividade como tendo capacidade para o financiar.
Para 65% das empresas, a fixação anual do salário mínimo deveria estar dependente da evolução da produtividade.
Quando questionadas sobre a autodeclaração de doença, 55% das empresas manifestou-se contra, apesar de 89% assinalar que nunca registou um caso destes ou que estes são muito pouco frequentes.
No que respeita ao designado “direito a desligar”, metade das empresas defende-o e outras tantas discordam, sendo que entre as que apresentam maior taxa de rejeição à implementação desta medida estão, sobretudo, as médias e microempresas.
Já quanto a sua comunicação à ACT, 86% das empresas discordam deste procedimento.
O inquérito da AIP-CCI foi realizado entre 12 de outubro e 11 de novembro de 2024 junto de 523 sociedades comerciais de todo o país (24% do Norte, 32% do Centro, 26% da Área Metropolitana de Lisboa, 12% do Alentejo, 3% do Algarve e 3% das ilhas).
A indústria representou 47% da amostra, seguida pelos serviços (26%), comércio (14%), construção (7%), agricultura (3%), alojamento e restauração (2%) e transportes e armazenagem (1%), sendo que 3% eram grandes empresas, 8% médias, 45% pequenas e 44% microempresas.
Da totalidade da amostra, 49,01% são empresas exportadoras.
ECONOMIA & FINANÇAS
ERC: APENAS 4% DOS MEDIA PORTUGUESES FATURAM ACIMA DE 10 MILHÕES
As empresas de media com rendimentos acima de 10 milhões de euros representavam 4% da totalidade em 2023, segundo a análise económico-financeira da ERC hoje divulgada, que aponta que as receitas não registaram melhoria face ao ano anterior.
As empresas de media com rendimentos acima de 10 milhões de euros representavam 4% da totalidade em 2023, segundo a análise económico-financeira da ERC hoje divulgada, que aponta que as receitas não registaram melhoria face ao ano anterior.
Esta é uma das conclusões do estudo de análise económica e financeira sobre os media em Portugal da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) relativo ao exercício de 2023, que tem por base dados reportados pelos regulados, no âmbito da Lei da Transparência da Titularidade dos Meios de Comunicação Social (Lei nº 78/2015, de 29 de julho).
“A análise conduzida pela ERC apurou que os ativos totais das empresas de comunicação social ascenderam a 1.123.063 euros e os rendimentos totais da atividade a 1.166.911 euros”, lê-se no comunicado do regulador.
Constatou-se “que as empresas com rendimentos superiores a 10 milhões de euros apenas representaram 4% da totalidade de entidades, mas 86% dos ativos, 84% dos capitais próprios do setor e 89% dos rendimentos”, prossegue a ERC.
O regulador refere que sobressai “o facto de não se ter assistido, em 2023, a uma melhoria dos rendimentos das empresas de comunicação social em Portugal, mantendo-se em 53% a percentagem de empresas que registam crescimento dos rendimentos”.
No período em análise, “o número de empresas com resultados líquidos positivos, resultados operacionais ou EBITDA positivos, e capitais próprios positivos situou-se em proporções inferiores a 2022”.
O estudo caracteriza o setor dos media português de “granular, composto por muitas pequenas empresas, em especial nos segmentos mais tradicionais, como as publicações periódicas e as rádios hertzianas”.
Aliás, “são as pequenas empresas que enfrentam maiores dificuldades face à alteração paradigmática da forma como os conteúdos são consumidos e dos interesses e composição dos consumidores, limitando ou inibindo a capacidade de crescimento”.
A publicidade continuou a ser a principal fonte de receitas do setor em 2023, “mas a sua evolução apresentou um comportamento misto entre as principais instituições”.
De acordo com a análise, “verificou-se um aumento das receitas de publicidade do segmento de televisão, mas mais centrado nos canais de televisão por subscrição (STVS) em detrimento do ‘free-to-air’ [canais gratuitos]”.
O consumo de notícias “é cada vez mais fragmentado entre diferentes plataformas comunicacionais e que a utilização do vídeo como fonte noticiosa tem vindo a crescer, especialmente entre os mais jovens”, refere a análise, que adianta que como “principal fonte de conteúdos de vídeo noticiosos surgem as plataformas de partilha de vídeo em detrimento dos ‘sites’ dos editores, o que aumenta os desafios de monetização de produção de conteúdos e conexão destes últimos”.
O estudo completo da ‘Análise Económica e Financeira ao Setor de Media em Portugal no ano 2023’ pode ser consultado na página da ERC.
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